Por que dizer adeus se torna tão complicado

Eu não sei como recomeçar porque não possuo condições de determinar o que devo fazer para obter êxito neste processo que, prevejo, será doloroso. Principalmente porque ainda me mantenho naquela posição frágil de quando você decidiu partir: de mãos atadas, estarrecido e intrinsecamente triste.

É muito mais difícil dizer adeus a quem decidiu partir e não a quem se foi por motivos de força maior. No balcão do lado mais escuro do bar, eu estou na minha própria companhia tentando te afogar em copos grandes de bebidas fortes. Eu espero, no mínimo eliminar algumas lembranças que tenho de nós, e, resgatar numa dose ou outra algum momento positivo que tenho de mim antes da sua chegada, qualquer motivo em que seu eu possa me apegar para me reerguer. Eu juro que me esforço, mas apenas me detenho às imagens de quando você estava aqui e quando se foi.

Pareço exagerado, eu sei. Mas é que não consigo ignorar o quanto evoluímos e sabemos um do outro. Eu conheço cada uma das suas preferências, acerto quase sempre quando suponho de que forma irá gesticular, sei dos seus sonhos e dos seus medos, soube aos poucos das suas formas mais íntimas de agir e, mesmo assim, sou capaz de me surpreender todos os dias.

Em todo o tempo você estimulou a minha melhora, acreditou nos meus projetos e traçou planos comigo. Você decidiu ir e deixou para trás uma agenda que incluía compromissos infinitos com a sua companhia… Entende o meu desespero?

Me sinto desencorajado e tenho a impressão de que a cada gole ou reflexão, não sei ao certo, a minha aparência fica pior. Você me ensinou a ser cada vez mais forte e eu juro que não permanecerei estagnado – o que já significa alguma iniciativa.  Só espero que não me custe muito tempo e que as cicatrizes se curem rápido. Preciso entender de uma vez que, embora saibamos mais um do outro, não somos mais os mesmos. E, como disse aquele escritor que me apresentou, Guimarães Rosa, “e é por esse motivo que dizer adeus se torna complicado! Digamos então que nada se perderá. Pelo menos dentro da gente…”

De fato.


Deixe um comentário